Etiqueta: Poesia
amigo
quem o diz “amigo”, depois da mensagem no fim de tudo ou no princípio
olá amigo. adeus amigo. sou amigo
pois. os amigos ficam no fim. e são poucos.
ficam com o desespero a desesperança o desalento ou a desilusão
a outra parte dos amigos
é a solidão da idade
vem o tempo extenso e ficas só
não falas aquelas falas de coração na mão
tão transparente que até te surpreende
mesmo a ti próprio
os amigos também medem a idade, são poucos e continuam sendo cada vez menos.
há
há
há um lugar, que já existe,
pode ter casa ou não
pode ainda não estar construída
mas há um lugar
ou melhor
vários lugares
cada um irá ter um morto teu
uma daquelas pessoas a quem punhas o coração nas mãos
ou a quem o davas para que vivesse.
Não saberás se verás esses lugares alguma vez
mesmo que já tenhas passado por cada um deles.
irás odiar cada um,
quando ai estiveres com um morto teu à beira do teu sofrimento.
Quanto ao teu não,
falo do teu lugar
podes tê-lo conhecido ou não,
pode não ter casa ainda,
mas há, existe,
podes ter já passado por ele
podes não o conhecer
mas há
e nunca o saberás, nunca saberás que lugar é,
mesmo que já tivesses passado por ele,
e nesse lugar estará quem o vá odiar
a quem será indiferente
outros dirão “puta que o pariu”.
Quanto a ti, tu vais lá estar mas não saberás que lugar é
não saberás se o conheces
se já por ali passaste
mesmo que já tivesses ali passado
nesse em que te darão como morto
em que te pousarão como morto.
A partir dai, nada,
para ti nem o nada existe
nem mesmo existe “nem o nada existe”
Agora já sabes, esse lugar há, existe
há um tempo em que o vais ocupar sem nunca o saber.
Nenhum destes poderás destruir.
Saber isso será melhor,
não tens que te preocupar a não ser com a vida que tens para viver
e com aqueles com quem vives e fazes feliz.
Franz E., Começo, dezembro 2014
vou de frente
se vais à vida, vai com o peito de frente e o corpo todo por diante, sem adiar seja o que for, que envelhecer é possível e morrer é certo.
devagar
Se vens com pressa para cima de mim
eu vou devagar ao teu lado
e havemos de nos sentar onde queiras
e os meus ouvidos serão a tua voz
…
Tudo parece fictício, sem saber para onde vai,
como barco sem timoneiro que lhe valha,
ao largo da realidade, tudo parece
nada é,
quase tudo parece,
pouco é,
quando o que é,
são emoções, sorrisos e abraços chegados.
imagem
Estonteado com as imagens,
de saber, de alegria
de estar
de pinta
de estilo
de moda
de sintonia com o momento
de rigor
de zelo
de valor
parecemos todos os melhores
aliás, não há quem faça melhor
não há erros
escondem-se
como quem esconde o lixo.
E afinal, quem se apresenta não se livra do lixo debaixo dos pés ou atrás das costas,
parece até que, quem os vê são aqueles a quem o sucesso não chegou,
a quem a dúvida permanece
a quem o propósito da vida é uma nuvem,
a quem a vida não tem contornos,
a nitidez do propósito do que se faz todos os dias não existe.
A realidade não é essa, por cada imagem feliz há um número maior de tristeza. Há fome, há miséria, há falhas, há muito trabalho por fazer.
Não me apetece dizer que nada tem sentido, quando o que é verdade, é que o sentido fazemos nós, e se a vida vos não acompanha o desejo, ficar não é alternativa.
Repensar e fazer é o caminho.
ninguém sabia que serias tu
ninguém imaginaria que serias tu a fechar a porta. Quando a aldeia a construiu, a casa da tua família, fê-lo a preceito, com a satisfação de quem ajuda e é útil, não sei se com o coração ou com outro sentimento, no fim albergou dezenas de pessoas, centenas passaram por ali e muito mais se passou entre aquelas paredes. A casa é pequena, mal construída e confortável só no Verão. Mas é a casa, a tua, a quem fechas a porta pela última vez, sem brilho, sem sentimento, nem sabendo que o fazes. Nem sabemos se um dia alguém a recordará ou a repovoará.