não merecemos estar neste planeta
nós
não merecemos estar neste planeta
não merecemos estar neste planeta
quem são estes? se somos nós. Quem somos nós? se somos eu. quem sou eu? estas caras querem sair da foto. tu queres entrar nela. dizer “olá”. gostava de ouvir isso. saber em que dia foi tirada. e porque se deixaram fotografar. de que falaram antes e depois. saber ao que vão. para onde. são estes os meus. e sei isto. e aquilo. e faço. sou capaz disto e daquilo e não corro para lado nenhum. desprezo isto. gosto daquilo. sei da minha miséria. sei das injustiças que me vergam. só não sei da merda que ainda vou fazer. nem da bondade que vou deixar. podia ser diferente. mas não me arrastes para fora deste tormento. não conheço outro. não me toques. que não vou. e só irei se me empurrarem. se me apontarem uma pistola à pele. faço-o pelos filhos.
de dentro da ingenuidade salpicos de esperança. seria possível ao menos eregir-se uma estátua à pessoa desconhecida, àquelas que enchem as ruas. as casas. as terras. as aldeias. as cidades. correndo. escavando o alcatrão em busca de vida. a seguir ou antes disso. poderia a política terrestre incluir a voz das pessoas desconhecidas? é possível é. digo eu. bem vistas as coisas não sei se de facto é possível. não governei. não governo. não governarei. não conheço essa lado da coisa. o poder. dizem que é por isso que nós vamos ao poder. por essa emoção. nem sabia que era uma emoção. desejável talvez não. refiro-me à voz das pessoas. desejável talvez não fosse que pudessem falar. dizer. o que querem. e para onde querem. como querem. alguns têm a vontade de soltar esses tormentos que afogam a mente e fazem-no. mais ou menos ruidosos. fazem-no. mas é. é possível. é desejável. só podemos ir em conjunto. um a empurrar ou a bater. não. não tem futuro. como se viu. a história conta-o. diz até que acaba em guerra. queres guerra?
quem somos [por dentro]? é para essa resposta que serve a literatura.
o que ansiamos é não ter medo de nós próprios, não ter medo de sermos quem somos, das nossas dúvidas, dos anseios, das perguntas, dos defeitos, sem desprezo por quem somos. Quando é possível, somos felizes.