Não te vi morrer,
veio um homem fardado
sussurar o que eu não queria ouvir
não te vi morrer, não estava
nem para te proteger
nem para te segurar a cabeça
nem para te apertar
Continue reading “mãe”Não te vi morrer,
veio um homem fardado
sussurar o que eu não queria ouvir
não te vi morrer, não estava
nem para te proteger
nem para te segurar a cabeça
nem para te apertar
Continue reading “mãe”Parámos na pequena estação onde o mundo passa mas não fica. Corri escadas abaixo. A pequena flor na memória. Deixei-a há tanto tempo, atrás de um muro, ainda vive. Parei junto ao muro. Debrucei-me. Tantas! Havia inúmeras flores iguais. De qual me tinha depedido, sozinha. Cobriam o muro até meia altura, vigorosas, no seu lugar. A pequena flor, que agora não distinguia, fora o início, agora bem acompanhada. As outras, filhas dela, dançando com o vento. Que lhes interessa, que interessa ao mundo, mas a mim toca-me, só eu sei, guardar na memória um fiapo inútil da história por detrás de um muro que poucos sabem, onde uma flor se acha, de pequena era maior, da sorte despejou e outras iguais fizeram companhia. Digo eu isso. Só eu, no meio de milhões corro escada abaixo para revisitar uns centímetros quadrados de terra esquecida por detrás de um muro velho. Que interessa isso. Deixa-me feliz, é o mundo feito de pequenas coisas de nada e poder ser tão grande, poder crescer de tão pequena flor, poder crescer de tão pouco, por nesse recanto resistir vida em flores viçosas. El teria sido a mãe. Essa deve ser outra razão. Acordei com meio corpo a cair do outro lado do muro e as pernas esticadas deste lado. O comboio gritava a partida, agora em sentido inverso, por felicidade. Corri, olhando uma última vez, senti que queria vir aqui mais vezes. Viria? Quando me sentei já o comboio se movimentava. Agradecia ao mundo, sei lá a quem, ou ao quê, mas agradecia a quem mandou, a quem construiu, a quem fez um muro, quem está não pode deixar de continuar o trabalho que está, agradeci a existência daquela velha estação sozinha, repousada à mais tempo do que eu, esquecida outras tantas vezes e ignorada mais ainda, voltaria um dia para ficar? Quem sabe as voltas que a vida dá, e onde estaremos daqui a pouco.