as mulheres amam de modo muito diferente do que os homens
ainda bem
Franz E., 20 ago 2017
as mulheres amam de modo muito diferente do que os homens
ainda bem
Franz E., 20 ago 2017
Reconhecia ao fundo uma silhueta de um homem e da sua carroça. O animal puxava a enorme carga com esforço, a mando do dono empenhava-se em vencer as agruras do caminho; a carroça pesada cambaleando como um embriagado ligada ao corpo do animal por cintos, que apertavam como um cilício; aos dois, sem tréguas, o vento e a chuva fustigavam as capas humildes, que mesmo assim se adiantavam por entre o ardil da Natureza. O dia começava cedo por estas paragens, e mesmo a chuva não impedia que a vida prosseguisse lenta e estóica. Eram estes os lugares da vida, da morte e da criação, eram lugares onde o tempo não existia, lugares serenos, ocultos e sem novidade. A sua beleza nascia com as gentes, nascia sem querer e mantinha-se eterna; não era suficiente ser para viver ali, era necessário nascer aqui para se viver naqueles lugares, para mim, magníficos. Pensava eu que o meu caminho era adiante, quando afinal aqueles lugares que o meu olhar breve observava escondiam o ser e a serenidade. Quantas vezes o sentira durante os passeios pelas terras da minha terra, mas agora a minha vontade era outra e… só deixara um bilhete àqueles tão chegados,
O Fraco, Franz E., 2ª parte, p.21 e 22
Contou-me e eu escrevo a impressão que me deixou. Não são as suas palavras letra a letra, são as texturas e as melodias do seu tempo próprio.
Vivo com a mesma ânsia de ser acossado por perjúrio: que desconhece que o fez por não saber que o que fizera, que construíra afinal um juramento falso: fora falso consigo e com Maria. A mulher dele também se chamava assim. Para um homem de 28 anos, casar-se pode ser um acto falso. Não porque as suas intenções sejam a de causar dor, apenas porque não lhe é possível melhor com esta tenra idade. Um juramento nas estacas do impossível, realizado em ilusão idealista não sabendo que não é possível. E não é.
-“Sabes… ” – Segui-lhe o olhar para me certificar de que era seguro falar agora, segui-lhe os braços, vi-lhe as mãos entrelaçadas.
-“Sim … ” – Ela já sabia. Aquele “sim” cansado de esperar.
-”Queria convidar-te para ir ao cinema… trabalhamos tanto… fechamos isto e vamos divertir-nos um pouco.” – Consegui não dizer tudo. Adiei. Verdade sim. Adiei. É que não consigo. No meio deste fervor todo, as palavras ficam engasgadas não sei onde. Não as consigo resgatar. E mais. É que ela já sabia. Fico refém do que vou dizer e dessa intuição feminina e sem reconhecer que são elas que escolhem, são elas que entrevistam muitos, querem conhecê-los, recolher informação, como se soubessem tudo, donas da verdade e do futuro. Ela já sabia. E eu aqui como um cãozinho estúpido.
7ª parte, O Fraco