Sabemos bem que assusta o manto vermelho. Mas é um prazer ver o manto azul liderar uma América que nos sabe bem. Vai ser duro, mas isso já o Biden sabe há mais tempo do que nós. Muita sorte Kamala e Biden!
Categoria: Escrita
escrever — Franz E.
As palavras fogem e queimam. E o escritor também. Foge cobarde a sete pés. Não vê uma, não se lembra, nem de uma, uma que se encaixe, mesmo que o faça retorcida esbaforida louca. E outras vezes, como raio vieste tu aqui parar!? Acontece no fim, quase sempre ao terminar o parágrafo, vem uma simpática […]
escrever — Franz E.
inspirador
palavras para usar todos os dias, em todos os lugares, em todos os tempos
escrever

Há quem diga que é preciso ser louco, até mesmo doente, para se escrever alguma coisa que valha a alguém, agora ou mesmo daqui a décadas. E que bem melhor é se te mantiveres anónimo enquanto escreves. Se a celebridade te atinge lá se vai a independência. Dizem. Sei lá. Vai dai fico a pensar que tudo o que fazemos com algum significado cabe numa mochila pequena porque o que importa é mesmo o que és agora aqui nesse mesmo momento. E se pelo meio escreves, melhor para ti, pelo menos reorganizas-te, mesmo que o que escreves não valha nada, que é o mais certo.
morte
morres só
sim
que podes fazer tu?
deixa em paz quem se prepara para morrer
não há outra forma de o fazer
Não é o mesmo que viver
deixa que os outros morram
sós, sim, que tenham essa dignidade, pelo menos
Franz E., Julho 2020
nada ficou
nada ficou deles, nada vai ficar
a não ser uma bengala, um copo ou uma lembrança
a não ser uma maneira de ser, de estar, de fazer
ou outra lembrança qualquer, um cheiro ou um lugar
mesmo nada os trará, nem esse tempo sequer,
e mesmo assim não te cansas de esperançar
talvez eles me apareçam à porta
fazem-me a falta que não consigo preencher
talvez me apareçam e assim viva mais um dia por inteiro
Franz E., Julho 2020
sorte
que sorte, temos a morte
o que seria viver por aqui eternamente
vendo tudo igual, como há 500 anos atrás
ou mais longe
até os gregos nos dizem o mesmo, seja na literatura ou noutra expressão qualquer
que sorte, temos a morte
José Cutileiro
Não o conheci. Ele não me conheceu, Mas a sua voz lúcida orientava, todos os domingos, entre o meio-dia e a uma, lá vinha aquele comentário baseado em factos, sem ilusões, nem armários, que não se podem abrir, direto ao assunto, com uma argumentação tão forte que nos fazia mais fortes, mesmo que não fôssemos da mesma opinião. Quando a Visão Global mudou de vozes foi uma perda, embora ainda seja uma referência na ANTENA 1. Agora pousa o mesmo autor, mas na TSF, ao sábado, sem a voz lúcida, mas com a mesma energia. Faz falta, muita falta.
https://www.tsf.pt/opiniao/morreu-o-meu-grande-amigo-jose-cutileiro-12205157.html

gelado
já viste… ouve bem, isto parece de garoto,
vá, diz lá, volta-se o outro com a garrafa apontada à boca e a cabeça empinada, os olhos de lado, não vá perder uma gota que seja.
– “estás agarrado a um gelado, tão agarrado, fazes tanta força, olhas e reolhas em redor mesmo sabendo que não te tráz de volta a voz “hoje pago-vos um gelado”. Essa voz de conforto que nunca mais existirá neste mundo, gravada desde pequeno. Esses momentos, hilariantes, enchiam o corpo de uma felicidade que chegava a todos os poros, porque era raro, mas quando acontecia era com a ternura por dentro. Agora, sento-me no mesmo sitio, só, e queria ouvir outra vez, poder voltar atrás nem que fosse meio-segundo, só isso, meio… mas só isso… mesmo assim, poder sentar-me no mesmo sitio, na mesma avenida, na mesma cidade, na mesma praia, no mesmo muro, com o mesmo vento, o mesmo aroma, o mesmo som, já me reconforta, e ter tido aquela voz, inigualável.
Talvez um dia eu possa interpretar essa voz com outro, e que talvez esse outro lhe sinta a falta quando for maior.”
quando acabei, estava o da cerveja com os cotovelos em cima do balcão, as duas mãos abraçadas à garrafa e um olhar perdido no tampo. Não fazia ideia nenhuma do que lhe contava.
O democrata e os outros
Custa a querer que um homem destes morra assim, às mãos da estupidez. É assim que é. É assim a que estamos habituados.