“há aquele momento em que escrevemos aos outros. Quando os vemos quase a nu, é como se nos víssemos a nu, ou entrevemos nas suas expressões, corporais ou não, por contraposição ao que nós próprios sentimos e escondemos, ou não somos capazes de dizer, por vergonha ou mesmo medo, entrevemos, dizia, o que escondemos, por vezes, de nós mesmo, ou melhor, até temos vergonha de o dizer, ou pensar, imaginar até.” – dizia-lhe, acabando com um gole de cerveja, observando a reação dele. – “porque não escreve sobre isso?” – perguntou – “Não tenho tempo!” – silêncio – “Talvez seja esse um dos objetivos da escrita: escrever o que, por vergonha, preconceito, se não pode dizer.” – Silêncio – “Bom…se não tens agora, não é depois que vais ter; lá em baixo faz muito escuro.” – rematou.