há um tempo que já passou, um vento que já soprou,

uma hora que não volta, uma porta que já não abre, uma enchada que já não cava,

uma janela que não abre, um frio que se instala, onde voltamos e voltamos e voltamos, e nada,

um portão fechado, cravado ao chão, rodeado de ervas, gravada com tempo,

e tu passaste por aqui, e mesmo que espere o resto de todas as vidas não virás,

são pedras que te viram, repousadas na esperança que as cousas fossem diferentes, e deveriam, se eu mandasse.

Se eu mandasse estarias todos os dias e sentavamo-nos com a mesa por repouso, e falariamos até nos faltar o fôlego. Como falámos. Só sei das saudades. Só sei que faço por fazer o mesmo a outra pessoa, ouvi-la e falar-lhe, com a mesma atenção.

Neste tempo sem tempo, corrido com a miséria por dentro, com o tronco cravejado de buracos, perto de se quebrar e estatelar no chão, à espera que acordem subitamente e se dediquem a outra pessoa, ouvi-la, até que a voz lhe doe.

Mas não vai ser assim. Mesmo assim, vou fazer o almoço, pôr a mesa, sentar-me e ouvir essa pessoa, mesmo que não venha, mesmo que nem sequer telefone, mesmo que me olvide, nem mesmo que seja para sempre.

Franz E., 2022

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