Esse móvel onde deixas esta malga, foi comprado um dia. Foi escolhido. Terão ficado felizes os teus familiares. Terão trabalhado muito para isso, isso que valorizavam. Não saberiam se, ou quem ou quando, irias tu deixar essa malga em cima hoje, agora. Este tempo que nos engole como um Tsunami. Hoje tu, amanhã outros, outrora os teus com quem conviveste. Esse acto tão simples, o de pousar essa malga, já foi. Só tu sabes. Só tu podes dizer. Embora não interesse nada como tantos outras coisas que fazemos. Contudo fazem parte de um continuo inexorável. Sem eles, não seguiriam os momentos mais importantes, aqueles que identificamos como significativos, numa corrente extensa. Essa torrente inclui o ser humano: até quando?
O que vais tu dizer aos outros que eles não saibam já. Que são gananciosos! Porcos! Egoístas! Narcisistas! Cegos! Eles dirão o mesmo de ti e mais: os outros não existem: aqui sou só eu que me convenço da minha permanente razão.