sem saber


Havemos de morrer sem saber quem fomos,

sem saber que defeitos tinhamos,

nem que maleitas viviam no nosso cérebro

nem o que os outros diziam de nós

nem todo o mal que fizemos

nem diremos a ninquém a culpa que nos consumia

que nos fez chorar décadas, em sussurro e outras vezes em silêncio.

Só soubemos por onde andámos

o que comemos

onde vivemos

se enganamos ou mentimos

quais eram os aromas da nossa terra

os seus hábitos

soubemos os defeitos dos outros

os males que nos fizeram

Dissemos que sempre fizemos bem, com a melhor das intenções,

das vontades

e das misérias, não falamos, a ninguém

não dissemos a ninguém o que nos roia

nem o que lamentavamos

soubemos dos nomes que dizemos dos outros

das vezes que nomiamos a sua estupidez

só nos outros

A miséria de todos nós é mesmo essa,

de nunca ter sabido quem fomos e a merda que fizemos

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