todos os dias, a vida curta,
estreita, sempre um pouco mais
bem caminhas em revoltas cadas vez mais curtas
o abismo por diante, por de lado, por de cima
e mais uma volta, não vás cair
essa caixa de vida estreita que desconhecias tão estreita
que vais a seguir empurrado como um animal
estreito e estreito, de volta breu
do outro lado breu
por todos os lados uma ausência negra
empurrado, não vais sorrir, nem ser feliz
quererias pegar no telefone e falar, não está ninguém
nem nesse número nem no outro, nem hoje nem amanhã
esse número está só na tua agenda e não o vais apagar
querias ouvir uma voz simples, doce, sincera
nem nesse número nem na morada dela
quando terá sido a última vez que lhe disseste alguma coisa,
que a viste, ou que foste a casa dela
não não, se pensas em falar com quem dizer o que te vai por dentro
ninguém, só sorrisos que te vão gozar amanhã, num comentário qualquer
e mais estreito
vives, mais vale só com o mar do que com este breu imenso
mais vale esse animal de companhia que a companhia com quem não posso dizer nada de dentro
dela só as coisas que deixou e o que disse sem querer dizer nada
todos os que te ouviam dizer-te, morreram
o que farás agora?
Franz E., abril 2018