E se fosse a vida um caminho de ilusão em ilusão? Como se vivêssemos imersos num fluido, onde pensamos que somos, mas de facto não somos, só parecemos.

A ilusão de que temos sempre razão, de que fazemos sempre bem feito e de que a nossa opinião é a verdadeira e está correta. Aliás, certo, correto, como deve ser, é da maneira que fazemos. Ou o contrário. A ilusão de que não fazemos nada certo, que está sempre incorreto, que não presta, os outros fazem melhor, e eu é mesmo só às vezes. E a mim cabe-me a sorte infiel, amarga e rota.

A ilusão de que existe uma verdade universal, e que a dominamos. De que somos capazes de tudo, e num click tão rápido, quais génios sobre-humanos, e mais, vivemos ao lado desta gentalha que passa. Gentalha iludida, seguindo ao engano. Eu não, vou certo, como uma flecha. E outras vezes no meio da gentalha.

A ilusão de que o poder é tudo, que o dinheiro e a fama são lugares aonde se quer chegar, o sucesso é o que mais conta, a virtude é a conta bancária, ou o automóvel xpto, mesmo que enganes o outro.

A ilusão de que existe uma conspiração una e universal contra si, e que são os outros que impedem, não deixam, não terei sucesso só por causa disso, alguns deles serão eventuais aliens, vindos do espaço infindo, só para ti, só para te foder.

A ilusão de que o que é natural é bom, de que os químicos não sendo naturais não o são.

A ilusão de que é possível ser alguém outro, esquecendo de sermos nós próprios, negando nós próprios, unos e irrepetíveis.

A ilusão de que amanhã começaremos a mudar.

A ilusão iludida que nos faz comprar porque assim somos reis no momento (e só nesse momento) em que pagamos.

A ilusão que explode e extingue no mesmo momento em que nos estilhaçamos numa realidade para logo depois, e no mesmo instante, adoptarmos outra ilusão. Na maior parte das vezes a mesma.

Dito e redito vezes sem conta, vamos de ilusão em ilusão.

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