está ai com a cara esmagada, a cabeça pousada no balcão, e o bar a fechar.
-“Quero um whisky.” –
-” E sirva ai o companheiro. Parece com falta de ar, ou melhor de alma” – o outro não tugiu nem mugiu.
– “Bebo sozinho.” – Era assim há tempo demais. Tanto que já não importava. Importar importava, mas que fazer? Ele não sabia, e também, que interessa, só porque se tem uma dor permanente, habituamo-nos. E que importa que tenhas dor ou não, amanhã nasce o sol e depois segue a morte num dia qualquer cuja data nem interessa. Os amigos fugiram, ou foi ele que partiu. Ou tornaram-se insuportáveis.
Parece que os homens em certa idade são impossíveis de se aturar. E essa última amizade morreu. Nem imaginava que uma amizade dessas, daquelas especiais que vem da tropa ou de se ter passado uma qualquer dificuldade com alguém. Com esse alguém. E se pensas que a partir daí não foge não acaba não nada. E se precisas telefonas, e se não precisas telefonas também. E alguém vai ouvir ou és tu que ouves. Era mesmo assim, e com aquela pessoa aquela amizade estavas em casa.
Ainda que a pessoa vivesse, mas tornou-se pedinte, pior do que isso moribundo, sem nada que fizesse ou quisesse fazer, nem amostra era do que foi. Morrera como morremos todos, de falta de qualquer coisa, uns até morrem mesmo antes de cair o corpo na terra. Houve até um jantar, já era defunda a amizade. Todos notaram, ninguém quis dizer. Morre como morre tudo. Ponto final. E que interessa que morra, se a vida continua para que quem se sente vivo, e os que mortos vivem, os minutos contam na mesma, mas não contam para nada que de rancor que vivem, rancor até aos ossos.
Um homem, independente da idade, é sempre meio difícil, não?
não sei se é como morrer, mas é como perder alguém que faz parte da tua geografia emocional. Foi isso que quis passar