Parei e perguntei a direção. Eram dois jovens, setenta anos mais coisa menos coisa. Amigos de infância, à sombra, resguardados do Sol que já ia alto. Conversámos um bom bocado. Disto e daquilo e do comboio que já não passa faz muito tempo. Um dizia que muito bem , era barulho a mais, e para que parava homem se ninguém seguia, o outro, viu como isto fica triste, sem movimento, ninguém, vai tudo embora, até o comboio vai para mais de 30 anos, se não for quarenta diz o outro, isso já não apita desde 1975 rapaz. Tá a ver. Há muito tempo. O sacana do tempo passa depressa e não volta atrás. No intervalo da conversa, olhei para o beiral, bem alto, o resto de telhado envelhecido e suplicante que lhes fazia sombra e fiquei preocupado. As telhas faziam equilíbrio. Ouvi-os mais um pouco e logo que pude desviei o tema: “Não têm medo que o telhado vos caia em cima?” – perguntei. “Você faz essa pergunta porque ainda é novo, ainda tem medo de morrer, nós já não… com a idade perdemos o medo.” Não consegui responder a tanta certeza, nem regatear, a conversa, a franqueza, a gentileza e o sorriso não se podem pagar.
fantástico, um texto simples rico e muito visual 🙂
obrigado!
Perder o medo de morrer soa triste. É como se viver ou morrer fosse indiferente. Gostei muito do texto, uma vez mais a fazer pensar. Parabéns!
Soa a triste sim, mas com a idade parece que é assim que se começa a pensar. Já viram tudo, anda é novo, e o corpo não ajuda com tanta suplica e as dores, mulher, as dores! Obrigado epla tua atenção.