bilhete


Reconhecia ao fundo uma silhueta de um homem e da sua carroça. O animal puxava a enorme carga com esforço, a mando do dono empenhava-se em vencer as agruras do caminho; a carroça pesada cambaleando como um embriagado ligada ao corpo do animal por cintos, que apertavam como um cilício; aos dois, sem tréguas, o vento e a chuva fustigavam as capas humildes, que mesmo assim se adiantavam por entre o ardil da Natureza. O dia começava cedo por estas paragens, e mesmo a chuva não impedia que a vida prosseguisse lenta e estóica. Eram estes os lugares da vida, da morte e da criação, eram lugares onde o tempo não existia, lugares serenos, ocultos e sem novidade. A sua beleza nascia com as gentes, nascia sem querer e mantinha-se eterna; não era suficiente ser para viver ali, era necessário nascer aqui para se viver naqueles lugares, para mim, magníficos. Pensava eu que o meu caminho era adiante, quando afinal aqueles lugares que o meu olhar breve observava escondiam o ser e a serenidade. Quantas vezes o sentira durante os passeios pelas terras da minha terra, mas agora a minha vontade era outra e… só deixara um bilhete àqueles tão chegados,

O Fraco, Franz E., 2ª parte, p.21 e 22

http://ofraco.wordpress.com/

5 thoughts on “bilhete

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s