Por estes dias ela andava especialmente bela. Olhos brilhantes. Sorriso luminoso. Lábios entumecidos, roliços, rebolavam-se ao falar, afagavam-se um contra o outro, reluzentes. Os olhos negros reboludos cercam-me, pérolas fixas no meu corpo, a voz melíflua à procura de mim, grave, longa e quente… ou as gargalhadas entrecortadas, inusitadas, e um vestido que cai insinuante… além de seduzir, pedia atenção -”estou aqui, aqui, aqui”- um corpo que chamava por outro, um que pedia o outro, um riso que se prendia ao coração, eu que me prendia no olhar dela, na face esquiva, uma intenção saborosa, pendurado numa dúvida esguia até ao desejo seguinte, o corpo escondido, o prolongamento do que se deixa ver, e quando se encontram numa primeira dança, os lábios chocam-se, sugam-se, agora único corpo ligado, enrolam-se para que nada termine; os sons do desejo quebram o silêncio, instala-se o frenesim, roçando-se, apertando-se, ligando-se lentamente, esfregando-lhe a vulva, afagando o corpo com os dedos ansiosos, à procura, contraindo-se, escorrega a mão por inteiro até sentir os pelos por debaixo de uma cueca transparente, um suspiro esvai-se nos ouvidos, empurra-se a mão pelas pernas, num vaivém cortado pelos lábios húmidos. Contorce-se. Segura a mão, rebola-se, enrolo-a em mim, o corpo abre-se nos dedos que a acariciam, um gemido tranquilo de uma mulher apaixonada, despe-se, entrelaçam uma intimidade que os irá levar ao espasmo único. São um. Enquanto se agarram como náufragos do desejo, escapam-se ao real e tornam-se dois animais, amam-se tão simples como isso, corpos gotejantes, frenéticos, loucos. Sem fingimentos nem insegurança, tremiam no interior do suor e dos suspiros, dizeres, gemidos sem medo, aquilo era nosso, embriagados, inebriados até ao deleite dos corpos em segredo, bamboleando os seios de encontro ao peito másculo, ou entrelaçando as pernas, deslizando o tronco na pele suave, quando os pêlos se contactam com a brevidade de um segundo mais longo do que um pequeno uivar deslumbrante; sorvi a vagina sem respirar, meneando-lhe a anca, sorvendo-lhe o ventre e os seios desequilibrados num rosto de lábios semiabertos com uma réstia de língua, em busca … afaguei-lhe o corpo, toquei-lhe, beijei-a por todo o lado, caminhei com os lábios do rosto à barriga, dos pés ao tronco, olhos semicerrados e deslumbrados, rodeou, animais seguimos … agora sentada permitia que lhe sorve-se os seios duros, enquanto se baloiçava como num carrossel mantendo as mãos nos meus ombros, ruídos entretidos, da ponta dos pés até aos extremos da alma éramos um só, jamais assim com outro ser humano. O mesmo sentir de uma criança à volta do seu chocolate. Outras vezes procurava-a no meio da noite, com as mãos por entre os cobertores e lençóis até encontrar as suas pernas puxando as suas cuecas respirando fundo, alargando-lhe as pernas até lhe tocar a vagina com a minha língua húmida enquanto semi-adormecida ia acordando com a cabeça rodopiante e o corpo a soltar a roupa e os cobertores, toda nua desenhava as suas linhas extenuantes enquanto se alargava para me deixar alojar no seu corpo. Acabávamos por estremecer enquanto nos empurrávamos. Outras vezes adormecíamos ao sabor da tarde enquanto acariciávamos
mãos o corpo de cada um lentamente muito
lentamente seríamos uma ligação impossível de explicar descrever
escrever.
O Fraco, 7ª parte