Saberás o que fazer com ele. Saberás cuidá-lo melhor do que eu cuido. É mais que uma união, que este carinho, que este respeito, amizade, que este valor que lhe atribuo: ser a minha companheira e eu pareço que lhe agrado; quer dizer, claro que agrado, ela não pára de me atazanar, eu cordeirinho inocente, caio-lhe nos braços, ela à espera de braços abertos que se fecham quando, como guerreiro moribundo de joelhos no chão, à espera que me desfira o golpe final.
Quero assinalar esse facto e não destruir. Isto é único. Sou dela, ela é para mim o que não entendo, é… um extremo um canto uma voz um sossego, um encanto, estar é vivê-la, é sorvê-la, abraçá-la, é descobri-la, é entregar-lhe “eu” intenso, dar-lhe o que sou, por inteiro – é preciso uma festa – vou descobri-la e também um lugar para ela, um que ela aprecie, que se chame casa, como a casa a dela, quero-a como me quero, quero-lhe tudo, dar-lhe de beber do meu tempo e do meu lugar – único – que lhe reservo nas minhas preocupações, na minha mente, na consciência, na alma, dar-lhe uma flor e o mundo, dar-lhe a alma, o mais íntimo que posso, dar-lhe o sereno estar, o sereno gostar, Maria, o meu mais longo pensamento desliza sobre ela; a minha maior loucura desliza sobre a sua face, o maior sorriso também. Não sei se lhe dou tudo, não sei se posso mais, parece que tudo ainda é pouco. Parece que esse tudo pode nem ser o que mais importa, o que vale ou é importante. Ao ouvi-la cresce uma alegria de orelha a orelha. Seguir-lhe os passos como se ela fosse eu, contei-lhe as minhas histórias como se fossem as histórias dela. Espraiei-me para que ela caminhasse sobre mim e repousasse enroscada. Abracei-a pensando que ao fazê-lo a magoaria e se a abraçasse ela estaria protegida. Tornei-me seu. Aliás, parte dela, só para lhe servir o sorriso. E se a sua voz se estender sobre um suave doce extenso espreguiçado colchão, e se a sua voz se tornar melíflua, daquela maneira, Maria sou eu que te desejo de um lado e do outro de nós, e se nos estendemos para longe dos terrenos agrestes de um passado ou de um pensamento agressivo, talvez que encontremos sempre num lugar nosso, tão nosso que o reconhecemos imediatamente. No contrário não pensava. Que esse lugar poderia ser volátil, ter desaparecido, poder desaparecer. Agora isso não existe. Adiante. Seguindo esse roteiro dos dias felizes, Maria era o que havia, ter-lhe-ei oferecido a maior loucura de um homem? Fui suficiente? Dei-lhe paixão sem saber se havia mais, quer dizer amor, um topo alto como um olhar, lá de cima de um monte que não morre, com os pés seguindo os traços da terra esquartejada pelo vento forte, vou abraçar-te e reconhecer-te como minha, a minha casa, aquele canto onde chegamos não importa o temporal que se abate, é nosso, a nossa casa, o caminho que sabemos de cor – e quem não sabe não lhe desejo essa sorte – um repouso “nós”, acontece quando deixamos de ser “eu”: isso era amor?
Franz E., O Fraco, 7ª parte
Penso que amor não era