– “O rapaz não é daqui, pois não?” -perguntou

– “Não…”- Balbuciei embaraçado.

– “Sente-se à minha mesa … ao menos tenho companhia”- continuou. Se calhar não tinha percebido que o teria estado a observar. Aquele homem sentia-se só entre os homens, menosprezado, caminha só.

– “Não quero incomodá-lo.” – Disse, tentando demonstrar respeito;

– “O rapaz incomoda-me é ai estacado, sozinho; chegue-se … vá não seja tímido.” – queria falar – “ Não tenha medo, que medo tenho eu que a mim me façam mal.”

– “Está bem…“ – Respondi sem hesitar, o que me surpreendeu. Aproximei-me da mesa, arrastei a cadeira em silêncio, sentei-me na sua frente. Subitamente fiquei com a sensação de estar num tribunal da vida tendo como juiz aquele homem-maior, ainda por cima andrajoso. O que andava ali a fazer? Como justificar isso àquele desconhecido? O silêncio ouvia-se das paredes. Como num tribunal reinava o silêncio na mesa, ele era o juiz, mandava, transformava-se a mesa numa enorme sala subjugada à reverência do momento; não me atrevia a falar enquanto o mais velho não concedesse autorização. Os únicos sons que ousavam romper aquele silêncio ouviam-se dos seus movimentos: a colher que tocava o prato, o sorver do caldo, o pão que esquartejava, o corpo que raspava no tampo da mesa, a roupa que estalejava.

– “Que faz por aqui?” – Acabou por perguntar. Disparou o que eu temia.

– “Gozo férias … ” – Disse-lhe com medo; não eram férias. Eu nem sabia o que era. Talvez uma rito de passagem.

– “Foge … ” – directo como uma lança, brilhante de gume afiado, num gesto apenas mergulhara-me na minha inutilidade.

“O Fraco”