Cheguei a um lugar. Sei. Mas, não sem esforço e mágoa. É mesmo assim. Fui atrás da liberdade sem nunca ter estado preso, a não ser preso na adolescência, preso sem ser prisioneiro, preso sendo eu próprio o carcereiro. Sei. Hoje. Sei. Liberdade é uma palavra, sorrateira e forte, tão forte que leva pessoas a morrerem por ela ou a viverem por ela, ou com ela. Sem o saber, porque não pode, o comboio seguia os trilhos, a mim chegavam relâmpagos de memórias, das paisagens ou das pessoas, do que disseram e do que fizeram, elas teriam outras memórias e estas carruagens, as mesmas ou não, por ali tinham passado vezes sem conta, à mesma hora, agitando a paisagem insensível a esse vaivém sobre ferro em linhas afagadas à pedra. Lugares assim acessíveis, tão acessíveis, todos os dias, bastava que apanhasse um. Chego a invejar máquinas, estas em particular. Reviam todos os lugares que eu queria, lugares ocupados uma única vez em toda uma vida: nunca mais regressaremos ali, no mesmo tempo, nem exactamente ao mesmo lugar. A doce e amarga felicidade das viagens. Ao certo, mesmo ao certo, é que esses perfumes de saudade com sabor a terra são da longa separação.