“Provavelmente, o capitalismo irá, agora que se vê privado da sua imagem do inimigo, ideologizar-se e, em consequência, autodestruir-se. Aqui em Portugal torna-se patente, até perder de vista, a força destruidora que emana da CEE, isto é, da sua central de Bruxelas. São aqui derramados balúrdios para a construção de estradas. Fundos estruturais, é como se lhe chama, só que estes retalham estruturas já existentes, destroem a a gricultura que, seja como for, já só marginalmente subsiste, lançam o país e as pessoas para um atraso ainda maior ao medi-los à luz das normas comunitárias, fazem este boom na construção, que de nada serve, passar por florescimento económico, empurram os produtos portugueses para o canto (substituindos por espanhóis) e poderiam demonstrar aos polacos que vivem lá distantes o que irá ser o florescimento logo que a Europa Ocidental, apresentada sob a forma da CEE, tomar posse e tirar partido das suas fraquezas.”
Günter Grass, Out. 1990, Em Viagem, p.229, D.Quixote, edição maio de 2013.