25 de Abril. Não sei porque não gosto das comemorações. Não sei se é assim convosco. E até aqui não sabia porque não gostava. E agora também não sei, mas tenho uma hipótese: é que ele é da rua, veio para a rua e protestou, enquanto que aqueles engalanados no parlamento, ano após ano, não protestam, não estão do nosso lado, quereriam que não tivesse ocorrido e não estão na rua.
O que fazem ali então? Mantêm os votos e cumprem com o protocolo, não vá a imprensa cair-lhes em cima (e o chefe claro).
Somos adormecidos e não é de agora. O Eça já o falava e o Garret também. Mas suspeito que é para a rua que vamos, porque as leis que nos governam não estão do nosso lado, e eles que nos governam, bem dispostos com as leis que fizeram, a seu belo prazer, não as querem mudar.
Verdade é que ao longo da história não mudámos nada aqui dentro, excepto no 25 de Abril e na Implantação da república. Nas outras crises, ou recebemos dinheiro de fora ou emigrámos e agora começamos a emigrar. Dizem que nada vai mudar, mas eu acho que sim, Portugal não é o mesmo daqui a dez trinta anos. Só temo que a mudança seja com a força, porque quem manda não apetece mudar.
Teremos que ter paciência dizem uns, outros queriam já a rua. Entre aqui e ali, entre extremos, estes dois, só espero que não haja guerra, porque destrói em vez de construir. Mas se houver, como se diz, entre mortos e feridos alguém há-de escapar. Roterdão foi completamente destruída pela guerra excepto o edifício da câmara e ali está hoje cheia de vigor.
Queria mesmo é que algo acontecesse, porque assim, não há país, não há projecto, há um lugar geográfico, o que já não é mau, PORTUGAL.
Mas esse lugar Portugal está envelhecido e abandonado, padece de desemprego e não produz. Assim, quem se ergue? Vale a esperança. Vale que cada um mude por si e pelos próximos. Vale que decidamos fazer, decidemos ser, em vez de criticar, em vez de parecer.