não vás


não estou triste nem contente. Vivo naquela alegria aparente de quem não pode [não consegue] [não se permite] [não perscruta caminho para] fugir desta tristeza. Olhas para mim e estou a sorrir. Falo até. Gozo, brinco com quem passa, mando umas larachas, e de quando em vez, chego mesmo a atirar piropos. Os outros devolvem a simpatia. Sou social. Pareço feliz. E até o sinto. Mas sinto-me triste e até o sinto também. Não vás que preciso de falar e não tenho com quem. Isto de viver em adulto é estranho. Não tens com quem desabafar até um certo nível. Em jovem, desabafavas com quem estivesse e isso era normal. A um adulto não se permite. Tens conhecidos, falas com eles, mas não desabafas. Tens um ou outro amigo. Falas com eles, mas não lhes contas tudo. Conclusão, não se atira cá para fora a merda toda. Talvez seja por isso que há tantos a escrever. Acaba-se por se viver em vidas repartidas, com partes de um infelicidade profunda e outras, misturadas com aquelas, de uma alegria extrema. E se quebras umas, perdes as outras. E essas outras são até, tão ou mais importantes, que as outras. A solidão entranha-se ao mesmo tempo que as pessoas à tua volta. Somos mais sós do que parecemos.

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