Não sei porque se escreve tanto. Suspeito apenas e tento uma resposta: porque temos a tendência de escutar e de contar histórias, numa tentativa de nos prolongar no tempo ou de dizer aos outros como foi. Ou porque nos fascinamos com as perguntas sem resposta, e escrevemos sem cessar, com o objetivo de tentar uma resposta.
O principal objetivo do escritor não é o que ele escreve. Sua necessidade primeira é escrever. Escrever, isto é, ausentar-se do mundo e de si mesmo para, eventualmente, fazer disso a matéria de elaborações literárias. É apenas num segundo momento que se põe a questão do “tema” a ser tratado. O tema é a condição necessária, necessariamente contingente da produção de escritos. Não importa qual tema é o melhor, desde que ele permita escrever. (André Gorz In: Carta a D., São Paulo: Annablume, 2008, p.28)
A escrita é um verdadeiro alimento. Ao mesmo tempo em que serve para a subsistência da alma, torna-se um hábito prazeroso e de efeitos indescritíveis pelas simples palavras.Daí, o desejo do poeta de associar sentimentos à matéria escrita. (Michelle Facchin)
outras tantas vezes é tão dificil escrever.
Acho que este trecho de Bonet define bem esta angústia do escritor. Espero que goste:
Um dos escolhos que intimidam o principiante é a sensação de impotência que costuma dominá-lo diante do trabalho a realizar. Propôs-se a escrever algo: um conto, um ensaio, uma poesia… Encerra-se em seu gabinete […] ordena os papéis, enche a caneta-tinteiro ou afina a ponta do lápis ou limpa os tipos de sua máquina, acende um cigarro, se tem cabelos ajeita-os, oprime os frontais e dispõe-se a trabalhar. Mas, horror, não sai nada! Desesperante esterilidade do espírito. Convence-se de que não nasceu para escrever. Joga o papel, lápis ou o que seja, e sai para a rua. (BONET, 1970, p.23)
A outra parte é ter escrito e não estar convencido de que o que fez não é capaz. Espera-se que um dia o sinta. E se não, também não é de maior importânica, outros escreverão melhor.