Se me pudesses ouvir daqui, se eu te pudesse dizer qualquer coisa, se fosse possível viajar no silêncio, de que valeria, o que te diria? Nada que já não soubesses. Os teus livros são uma delícia humana. Também te diria o que já sabes e pelo que lutaste. Nos lugares de quem manda é o desumano que ocupou as prioridades. E se viajamos, terra dentro, lá encontramos um sorriso, uma ajuda, um apreço, humildade. E se viajamos nos teus livros, é isso que lhes fica no fim, o humano, e para isso, não é preciso dinheiro, nem a miséria, nem a ganância, nem o desespero do que vivemos aqui hoje. O outro. Estar para o outro. Isso é ser. Volta e meia lá tem o povo que se erguer e repor o que falta. É o que este planeta precisa agora e que a tua geração lutou tanto. Ser. Colocar o humano no palco. Agora tudo apenas parece ser. Nada (ou pouco) é. Se não formos à rua, isto vai esvaziar-se, esvair-se pelos cantos das gravatas vaidosas sabedoras de pouco mais do que nada. Agora é reler os teus livros e voltar à rua para repor o que é de todos.
Quanto à conversa, fica para no silêncio de cada leitura dos teus livros. Ano após ano. No que nos dizem, no que nos vão dizendo. Talvez que nos estendessemos numa longa conversa. Quem sabe?
Agradeço-te.