Hoje fui a ver por onde andei. Lugares que ocupava todos os dias, as mesmas caras, as mesmas árvores, a mesma pedra desalinhada junto à esquina onde uma raiz se enterra, o mesmo buraco de terra, o mesmo caixote do lixo, o mesmo portão verde, o mesmo cão cansado, o mesmo bom-dia, a mesma mesa de café, as caras conhecidas da altura. Vezes e vezes e vezes repetidas, até que parti e revisito agora, muito tempo depois. Em cada rua, em cada beco, em cada casa, em cada passeio, em cada calçada tantas vezes pisada, em cada retiro onde passei, onde namorei, onde trabalhei, onde acompanhei, onde agoniei, onde sofri, em cada esquina onde segurei uma mão minúscula, e falei, falámos, onde brinquei com ela, onde a segurei ao colo para ver aquele gato estendido, onde lhe sorri, onde ouvi a sua gargalhada sincera, só me fica uma pergunta: “terei sido feliz?” e outra maior “Terei feito alguém feliz” e nasce outra agora “Faço alguém feliz?”