Sempre. Há um tempo que fica. Sempre. Sempre. Um espaço que fica. Sempre. Sempre. Sempre. Para trás. Bem para atrás. Sem sobreviver à memória. Morre sem mágoa, sem tréguas. Um lugar a que nunca mais iremos voltar. Como se morrêssemos também ali, só ali, um ínfimo tempo, um lugar-tempo minúsculo, que serve apenas para continuar este corpo direito ao tempo-lugar seguinte. Naquele lugar. Aparente. Sem importância óbvia. A não ser a que me continuou. Mas para o qual morri. Ontem estivemos lá, hoje há quem continue a passar por ali, um lugar que vive depois de mim. Olha a importância que eu tenho? Queria viver em todos os lugares, e dentro de todos, como se sem mim estivesse a salvação deste planeta ignóbil e outras tantas vezes humano, e que queríamos sempre humano como um mar calmo. E se é humano, como devíamos saber e aceitar, tem revolta e escaramuça por dentro. Olhei os mesmo lugares que vão ser vistos por outros depois de mim, que continuam sem mim. Passei por lá sem mudar uma peça que fosse, e o que alterei, foram olhares ou gestos, e o que alterei foi em mim, adicionei um lugar que não é mais um, mas um a que desejamos voltar, como quem quisesse estar em todos os lugares ao mesmo tempo, em todos os humanos ao mesmo tempo. Queria ser um deus, um conceito secular tangido por um ateu.