Não conheço outro modo. Não mesmo. Para aquele impasse que nos assalta sem rodeios. O passeio sem interrupção, sem distância, durante horas, por caminhos que já sabemos, até nos deixarmos no vazio, a sós com o que nos preocupa. Há quem lhe chame “dormir sobre a almofada”. Eu digo que são imersões. Que interessa a diferença. É assim que o cérebro se amanha. Partimos para caminhar, certos de que vamos voltar mais limpos. Sem medo. Imerge-se. E já imersos no revolto dos pensamentos, passam-se minutos atrás de minutos, uma batalha sem retorno, inevitável, implacável, quando de repente acordamos com uma alegria, descobrimos uma ordem no meio daquilo tudo, entrevemos um caminho, uma solução, uma pequena luz na tez cerrada até então, são quase sempre uma terapia estes serões passeantes, arrumam-nos as ideias, concretizam-nas, àquilo que anda por aqui em escaramuça, aos trambulhões, de um lado para outro sem sentido, aos rebulões desnecessários, sem saída, aos puxões sem sucesso, até que que tudo se acalma, de repente, águas calmas, o gozo chegou, a alegria ficou. Somos outros. Há sentido.