Ninguém pára à tua porta. Vamos andando, com a reserva de ilusão, amanhã vamos ser felizes, se alterarmos isto seremos felizes, se fizermos aquilo atracamos nesse porto. Se comprarmos aquela coisa, abre-se uma corrente quente de luz e fresco, calor de grandeza: somos grandes e importantes. Olhem para mim, que sou melhor que todos juntos.
Bom, não há lugar assim, nem tempo feliz. Nem gente importante. Nem gente grande. Só humanos solidários.
Mudamos constantemente sem saber onde vamos parar e como lá chegamos. Ainda há dez anos me pensava um homem feliz, com amigos de volta. Hoje, arranho as portas à procura de sons humanos.
Daqui a dez anos é uma escuridão sem nada desenhado, o mais completo vazio de que possas imaginar, é uma pergunta humana sem resposta qualquer, por isso uma não-pergunta. Não existe uma pergunta assim. E não perguntes sobre futuro a menos de 24 horas. A resposta que darás, será mesmo assim, será muito provavelmente errada, quanto mais a dez anos. Quem sabe onde estará, o que estará a fazer, como estará, com quem estará e como será esse mundo. Em dez anos, nem penses nisso.
Hoje, sou o isolamento de quem parece ter feito mal a este mundo sem que o soubesse. E fez mesmo. Amanhã continuarei isolado. Enrolado nas mantas à espera que sintam a minha falta.