uma miséria a que nos temos que habituar toda a vida. Bom ou mau? Que interessa? Amanhã pode ser diferente, tão diferente que nem tu podes estar aqui. Aliás, quem lê estas linhas, ou quem as escreve, pode neste preciso momento já não estar aqui! No momento seguinte somos esquecimento. Então? É mesmo assim. Por isso, o que impede de plantares um sorriso corpo abaixo? Que diferença faz arregaçares os teus lábios ou escolheres uma cara descaída? Não que faça mossa estar triste, aliás é como se pode estar… alegre, triste, cinzento, calado, ou extrovertido, feliz ou, ansioso por receber a vida de frente. Não há diferença no propósito da vida, estares alegre ou triste, corre na mesma: a Terra roda, o mar enrola-se com a areia, o vento cresce adentro nos cabelos, o frio engarrafa-nos num casaco, a noite espreguiça-se e o dia não parece querer acordar da madrugada. Verdade, verdade, é que não há propósito na vida. E isto é forte. Para além de estar sempre a mudar, não há qualquer objectivo. E mais ainda. Teres objectivo ou não teres, é exactamente a mesma coisa.
Para quem se senta num banco com o olhar baço do vazio ou para quem corre atrás de perceber como funciona um vírus, o planeta, a vida, a natureza não tem qualquer agradecimento. Já um humano terá. Se lhe deres um abraço, se lhe sorrires na rua, ou se lhe segurares a porta ou se lhe deres o teu tempo, quando nada faz sentido. Aliás. Nada faz sentido e tudo pode fazer. Podes ser um excelente humano e ao mesmo tempo o pior deles todos. Alguém te crítica, não importa o que fazes. Alguém te agradeçe, não importe o que fazes. Hitler é ao mesmo tempo, o maior e o pior. E isso depende apenas da perspectiva de quem o vê. Não importa as intenções que tiveres. Podes estar a fazer tudo e nada ao mesmo tempo.
Uma mulher apedrejada é acolhida ao mesmo tempo como pecadora e vítima de injustiça profunda. Qual é a tua perspectiva? E aqui morde outra coisa, nesta vida. Defender um ponto de vista, dizê-lo e defendê-lo em público é de coragem. Quem tem coragem para isso? Quem tem coragem para ser ao mesmo tempo, agraciado e chamado de filho da puta, quando o que está a fazer é pelo que acredita ser justo. Estarás disposto a participar nessa luta?