Neste longo caminho complexo, embrulhamo-nos nas perdas, de vez em quando. Atacam sem piedade, sem avisar e nunca ficamos na mesma… é uma irreversibilidade que nos paralisa. Deixa-nos um buraco que não vamos preencher nunca. Nunca!
O cérebro parece não saber fazer mais nada do que alimentar a culpa. O que não fizemos. E que podíamos ter feito. O tempo que não estivemos. E que podíamos ter estado. Que outras decisões deviamos ter tomado e não tomámos. O que daríamos para ter de volta aquela alegria.
Depois vamos adormecendo. Vamo-nos esquecendo desse trauma. De tempos a tempos, esse passado caça-nos, arremessa-nos contra o chão, enrola-nos numa cama, e a vontade é apenas chorar, chorar com o corpo todo. Ficamos a conhecer o nosso mundo psicológico. Cheio destes buracos há medida que o mundo lá fora se vai tornando menos familiar, há medida que aqueles de quem gostamos se vão fechando numa caixa coberta com terra.
Sabemos tão bem de outras histórias tão ou mais cortantes que a nossa, mas esta, a nossa, fere por dentro sem sabermos onde deixar essa dor, como nos livrar dela.
O que fazer então? O que fazer? Não há resposta. Cada um saberá quando enterra os seus, quando os visita ou quando os aceita ausentes. Cada um saberá que sentido dar ao que resta. Cada um saberá o que fazer, se estar só ou triste, cinzento ou parado. Cada um saberá quando aceitar. Cada um saberá em que instante recomeça a vida, porque não sabemos quando vamos ter que recomeçar outra vez.
Aceitar que vivemos diversas vidas, umas atrás das outras, esburacadas por estes eventos é muito dificil de aceitar, se isso significa sofrimento, dor permanente, se o que tínhamos era bom.