Ir ao teatro comça a ser uma opção séria. O paradigma de todos nós, com a crise que se vive, vai mudar nos próximos vinte anos; não seremos os mesmos depois desse tempo. Vamos até ter um conflito sério, uma guerra global, uma fome que fará mexer, a tristeza que dormirá sobre a tristeza, o sofrimento que não parece desaparecer.
Mas depois disso, vamos deixar as pressas, as sedes de sucesso, a ânsia de brilho… vamos passar a ter outras certezas: o estar em vez de passar, o ser em vez de parecer, o repartir em vez de encher, o sentir que somos todos, inevitavelmente, mundialmente, ligados por caminhos que nem sequer imaginamos, por lugares-tempo sem regresso, por partidas definitivas.
O que me lembro dos Maias?! O texto enfadonho, sobretudo obrigatório, da adolescência escolar. Hoje admiro a pertinência e a actualidade do texto. Como se a vida não fosse mais do que um retorno, de uma repetição de histórias. Se pensamos que a nossa história é única, estranha, inocente, enfadonha, alegre, virtuosa, é porque não lemos os clássicos, outros já o viveram, noutras vidas passadas e outros o farão em vidas futuras. A nossa vida é única pelo seu conjunto, porque se vivem histórias repetidas, mas unidas numa única vida, a nossa. Por isso, nenhuma vida é igual, mas é, em cada episódio, idêntica a tantas outras.
Aqui temos os mesmos Maias numa história muito bem contada. O teatro é todo usado. Os actores são óptimos. Fico admirado por srem tantos e tão bons. Apenas o Eduardo Maia necessita de melhorar a sua expressividade amorosa: falta-lhe o tempo que lhe trará a emoção da perda. Na segunda parte, quando se conta a ligação amorosa, a coisa adormece um pouco, mas logo de seguida agarra o espectador. O piano estava excepcional. Os cenários muito simples mas significativos. Ficam dúvidas corriqueiras: como é que uma actora dá conta e se mistura no meio de tantos actores?
Não fica por aqui. O Teatro trindade tem esconderijos que vale a pena explorar, tem restos de outros tempos que fazem pensar. Volta-se sempre com agrado a esta casa. Quantos noutros tempos não passaram ali e quantos não vão passar? O teatro ganha vida. O teatro dá-nos tempo e mostra-nos outro tempo que é semelhante ao nosso. Obrigado “Teatro Trindade” pela hospitalidade, desde os actores, passando pela casa em si, até aos funcionários, com muita paciência, nos arrumam na sala!